você sabe o que é ecofeminismo, amiga?

ilustração de uma mão passando um cacho de uva para outra mão

Tecla SAP: o Ecofeminismo é uma vertente do movimento feminista que conecta a luta pela equidade de gênero com a defesa do meio ambiente e sua preservação. O termo surgiu nos anos 70, pelas mãos de Françoise d’Eaubonne, que reivindicava que a luta pelos direitos das mulheres estava atrelada à busca por um mundo mais sustentável. Ainda hoje, décadas depois, essa vertente ainda é importantíssima e sabe por quê? Porque entre as pessoas mais afetadas pela crise estamos nós, as mulheres. Segundo a ONU, mulheres representam 80% do total de pessoas que são obrigadas a deixar suas casas por consequência das mudanças climáticas. Fechar essa conta é fácil: são as mulheres que carregam maior probabilidade de viver em condições de pobreza e menor poder socioeconômico. Somos as mais vulneráveis, as mais propensas a morrer e, ainda assim, estamos fazendo boa parte do trabalho necessário para suavizar um pouquinho que seja do desastre ambiental.

colaboração no ecofeminismo

Na filosofia ecofeminista, a palavra de ordem é colaboração em vez de dominação e quem segue essa corrente enxerga uma mesma raiz entre as causas da destruição do meio ambiente e da opressão feminina. Em artigo publicado originalmente no Everyday Feminism por Allison Kilkenny e traduzido para o português pelo portal Modefica, plataforma de moda e comportamento transdisciplinar com foco em sustentabilidade e futuro, a escritora diz que como progressistas, devemos estar sempre tentando tornar o mundo um lugar melhor para todas as pessoas — mas as feministas devem se preocupar especialmente com as dificuldades das mulheres pobres e não-brancas: “As mulheres estão trabalhando todos os dias para preparar suas casas para o planeta em mudança, e se realmente levamos a sério o conceito de solidariedade, devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar”.

ecofeminismo e interseccionalidade

Para Marina Colerato, fundadora do Modefica, o aparato mais importante que o Ecofeminismo nos oferece é a interseccionalidade: “Todas as opressões estão fundamentadas numa mesma lógica. Nesse sentido, e se olharmos para o contexto atual que vivemos, percebemos que não precisa e é contraprodutivo fazer uma tentativa de elencar quais são os grupos mais ou menos oprimidos. Cada grupo sofre opressões distintas. A perspectiva interseccional mostra que essas opressões têm a mesma raiz, a mesma base. Por isso o ecofeminismo pode, hoje, servir inclusive como uma estratégia de união de forças e de consolidação destes movimentos socioambientais que buscam objetivos talvez similares, porém não idênticos — e que acabam adentrando uma lógica de competição e de concorrência neoliberal. Esse mecanismo analítico tão presente e tão claro no Ecofeminismo pode ajudar a gente a avançar na agenda de pacto dos movimentos para olhar o problema a partir da raiz. Hoje, já há essa ferramenta sendo utilizada de forma mais abundante, mas se a gente pensar principalmente no âmbito ambiental ainda existe um bom trabalho a ser feito. Falta, por exemplo, uma percepção muito clara de que mudanças climáticas afetam principalmente mulheres não brancas e pessoas do sul global. E isso conseguimos descortinar a partir de uma análise de lógica de dominação pela ferramenta da interseccionalidade”.

mais uma camada

Agora, vamos dar mais um passinho: se os impactos do meio ambiente são operados majoritariamente pela figura masculina branca e o desequilíbrio atinge primeiro as classes mais pobres, fica difícil desvencilhar o ecofeminismo das lutas por justiça social, né? Basicamente, precisamos, de uma vez por todas, entender que aquelas que menos colaboram para o aquecimento global — as mulheres pobres de países menos desenvolvidos, segundo relatório divulgado pelo Fundo para População das Nações Unidas — são justamente a que mais estão na mira das catástrofes. E são elas, portanto, que devem ter nossos maiores esforços de proteção.

Para começar essa conversa, a perspectiva ecofeminista propõe, como plano de ação, que se reconheça que a vida na sociedade e a relação que travamos com a natureza se baseie não no modelo extrativista, mas num modo mais colaborativo. Nesse plano, entram a prática de uma agricultura mais familiar e menos industrializada, a preservação de habitats naturais, e adoção de energia limpa e a queda, de uma vez por todas, do mindset de polarização que separa natureza e progresso, humano e animal, homem e mulher. Num mundo ideal, não haveria jogos de poder porque não existiria a necessidade de um grupo se sobrepor a outro. E este é o recado principal: nem natureza, nem mulher estão subordinadas ao homem.

No Brasil, o movimento começa a ganhar corpo e a ocupar importantes espaços de decisão. Para Colerato, podemos pensar, por aqui, a partir de dois lugares — o acadêmico e o prático —: “Enquanto movimento que se desenvolve na academia, ainda assim muito relacionado com movimentos sociais, seguimos engatinhando e conquistando nosso espaço nos diversos campos do saber. Já no campo da prática, conseguimos perceber movimentos que são em essência ecofeministas, mas que não se denominam assim ou que nem conhecem o termo. Podemos fazer essa análise, por exemplo, com a Marcha das Margaridas e a práxis ecofeminista. Quando olhamos para o campo, para a floresta e, na verdade, para os países do sul global, seja América Latina, seja Índia, percebemos uma resistência que é para a sobrevivência de grupos de mulheres que se relacionam com essa práxis — que é o refletir e fazer num constante aprimoramento entre teoria e prática. Nossa expectativa enquanto ativistas ecofeministas é que consigamos mostrar mais essas relações para que assim fortaleçamos tanto o ecofeminismo quanto os demais movimentos”, explica.

Por tudo isso, se você ainda não sabe se o Ecofeminismo é pra você, este artigo dá cinco bons motivos para começar a repensar. <3 Compartilhe com as suas, amiga, e vamos fazer essa mensagem chegar ainda mais longe.


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