sustentabilidade x vida financeira: é mais caro optar por um estilo de vida consciente?
Se há um mito que perdura quando o assunto é sustentabilidade, é o de que levar uma vida mais amigável para o planeta custa caro. Essa ideia equivocada tem um papel importantíssimo de manutenção do status quo: fazer com que a grande indústria continue operando pela lógica extrativista e poluidora, sem que precise se adaptar às demandas urgentes da Terra.
Para a apresentadora, ativista ambiental e podcaster Giovanna Nader, sustentabilidade é sinônimo de liberdade: “Como estamos em um sistema capitalista opressor, é claro que existem produtos caríssimos. Mas também existem produtos muito acessíveis. Na moda, se algum produto sustentável é caro, muito provavelmente é porque existe uma mão de obra bem remunerada ou um produto artesanal que leva mais tempo para ser feito ou, ainda, a matéria-prima tem qualidade superior ao costumeiro. Mesmo assim, a moda sustentável pode ser muito barata. Podemos, por exemplo, comprar de brechós, de segunda mão. Então mesmo que seja uma peça de marca cara, será muito mais barato do que se fosse comprar um novo. E estamos falando de muitas possibilidades, como bazar de igreja, bazares que custam R$ 2, R$ 3, e é o caminho mais sustentável possível porque já existe. Ou, ainda, trocas de roupa, como o Projeto Gaveta, em que o custo é zero. Quando falamos de sustentabilidade temos de desenvolver o olhar que ela existe justamente para nos libertar. Por fim, o mais sustentável é você fazer seus próprios produtos de limpeza em casa em vez de comprar os que já existem no supermercado. Muitas vezes, é essa atitude que ajuda a gente a encontrar uma brecha nesse sistema de consumo e lucro”.
um passo atrás: o valor de uma peça
E para responder se uma vida sustentável custa mais dinheiro, e embarcando na fala da Gi, é preciso, antes de tudo, dar um passinho para trás. O primeiro ponto que precisamos lançar uma mirada atenciosa é o de que temos uma noção errônea de valor. Não faz sentido que sigamos achando que um produto que é feito em pequena escala, com mão de obra valorizada e que respeita todas as regras socioambientais tenha o mesmo valor do que aquele feito em grande escala, com mão de obra mal remunerada e menosprezando preocupações com o meio ambiente. Talvez tenhamos, antes de tudo, de mudar nossa mentalidade: não é o produto sustentável que é mais caro, mas sim o produto poluente que, ao não remunerar corretamente a cadeia produtiva e ao desconsiderar os cuidados com o nosso planeta, é barato demais.
custo x beneficio de uma peça ou produto
O segundo ponto que precisamos considerar quando falamos de custo-benefício é a durabilidade. Itens feitos corretamente, com matéria-prima de qualidade, têm uma vida útil muito maior do que aqueles fabricados a toque de caixa, com ingredientes mais baratos para aumentar a lucratividade do produto final. Além disso, se determinada mercadoria dura mais, significa também que vamos colocar menos embalagens no mundo, né? :)
um produto, muitas utilidades
Por fim, mas não menos importante, temos, ainda, a questão da multifuncionalidade. A logística sustentável simplifica a vida e faz com que a gente use cada coisinha de um jeito muito mais criativo. Quer um exemplo? No curso online Corpo Casa Manual, da Fabi Wan, em que ela ensina mulheres a fazerem seus próprios produtos, há um módulo sobre vinagre e suas muitas utilidades — que vai de tônico facial a condicionar perfeito. “Ao observar a natureza, vejo que existe uma inteligência por trás de toda ação. Nada num sistema natural tem uma única utilidade. Tudo é multifunção e cumpre diferentes papéis em todos os ciclos da vida. Quando inspiramos nossa vida (e consumo) nessa inteligência, é possível consumir de forma simplificada e minimalista. Um óleo de gergelim, por exemplo, pode ser usado na cozinha, no cabelo, no rosto, no corpo, do bebê ao vovô. Esse mesmo óleo pode ser transformado (com outros elementos multifuncionais da natureza) em sabão e cumprir diversas outras funções, como lavar a louça, roupas, seu corpo, seu carro, o chão da sua casa. Logo, você não precisa de um produto para cada função. Um ingrediente puro e virgem cumpre o papel de dezenas de cosméticos e diminui drasticamente seu gasto financeiro. Isso é a inteligência da natureza sendo aplicada em nossas vidas. É basicamente o entendimento de que nós também somos parte da natureza e por isso esse padrão genial de multifuncionalidade e cooperação funciona também em nossas vidas tão bem quanto funciona em uma floresta. Lá, uma árvore serve de sombra para plantas de estrato baixo, de casa para animais, de matéria orgânica para o solo… Se passarmos a usar essa lógica em nossas vidas, rapidamente retornaremos a um viver em harmonia com a natureza, a tão falada ‘sustentabilidade’, explica Fabi.
Depois de todas essas considerações, se você ainda tem dúvidas se a vida sustentável é pra você, a Nina Marcucci, do Menos 1 Lixo, fez as contas para provar que escolher uma rotina sem plástico, por exemplo, pode sair mais em conta do que você imaginou. Para esse cálculo, ela usou três itens básicos do nosso dia a dia: consumo de carne vermelha, produtos de limpeza e a utilização de absorventes descartáveis. Dá o play e vem com a gente na mudança para um planeta mais saudável, amiga <3
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