pobreza menstrual: você sabe o que é?
Carolina Delboni é educadora e escritora. Especialista em comportamento adolescente. Colunista do Estadão, atua também como consultora educacional e palestrante em escolas e instituições. É autora do livro Desafios da Adolescência na Contemporaneidade.
Você sabe por que é tão importante falar sobre pobreza menstrual?
Porque esse é um problema que atinge 52% da população feminina. Muita coisa, não é? Maio é conhecido como o mês da conscientização e combate a pobreza menstrual e dia 28 tornou-se o Dia Internacional da Higiene Menstrual. Mas para que esse dia tenha sentido e o mês ganhe ainda mais relevância, a gente precisa, primeiro, entender por que esse assunto é tão importante.
Ano passado, segundo ano da campanha Pantys Protest, a marca utilizou uma frase que se espalhou pelas redes sociais e que dizia o seguinte: “não enxergar o problema não quer dizer que ele não existe”, e eu achei que era bom recuperar a frase pra gente entender a importância de dar nome aos problemas, aparentemente, inexistentes.
Quando a gente se informa, quando a gente busca saber mais, temos a chance de ganhar consciência sobre uma questão que está sendo debatida. E é só a partir deste momento que somos capazes de combater qualquer tipo de injustiça ou desigualdade que esteja por trás. Deu pra entender?
Vou ser mais clara: se eu não sei que pobreza menstrual existe e que ela impossibilita mais de meio milhão de mulheres pelo mundo a frequentarem suas atividades, como escola e trabalho, como eu posso me preocupar e trabalhar para reverter esse cenário?
Dar nome é um ato determinante e quando a gente o faz, a gente se apropria de determinado contexto, cultura, pessoa, objeto ou causa. E pobreza menstrual é um termo que reúne em duas palavras um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação.
Isso incluiu também a discussão da relação com o meio ambiente uma vez que a gente aqui levanta a bandeira da sustentabilidade. Uma pessoa usa, em média, 15 toneladas de absorvente ao longo da vida. O que significa um descarte na natureza de 200kg de resíduos. E como a gente pensa essa relação de maneira mais consciente e que promova em meninas e mulheres a autonomia deste processo de higiene pessoal?
É um desafio enorme até porque nos coloca para pensar que a pobreza menstrual é muito mais ampla e profunda do que a distribuição de absorventes gratuitamente, certo? Ela se refere a inúmeros desafios de acesso a direitos e insumos de saúde. Estes desafios representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual a direitos e oportunidades.
São meninas que deixam de ir à escola ou ao trabalho ou ao médico ou onde quer que seja porque não têm um absorvente higiênico para colocar na calcinha. Tão básico e simples quanto o ato cotidiano de mulheres serem seres que menstruam.
Segundo estudo da UNICEF, 28% das meninas e mulheres brasileiras é afetada pela pobreza menstrual, cerca de 11,3 milhões de brasileiras, e 30% conhecem alguém que também sofre do problema. 40% destas mulheres têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, meninas jovens.
Na falta de um absorvente, meninas usam miolo de pão, roupa velha, pedaço de pano de chão, papel higiênico, jornal e há quem deixe escorrer pelo corpo. E sabe o que acontece com meninas quando escorrem? São, pelo menos, 5 dias sem ir à escola. Uma semana de falta escolar porque não tem absorvente higiênico para frequentar a escola. Será que isso é certo?
Entre as consequências diretas da falta de acesso ao mesmo estão as doenças e problemas vaginais. Nos últimos 12 meses, 28% das 814 mulheres entrevistadas, tiveram infecção urinária ou cistite, 24% candidíase, 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria. E como faz para tratar?
Precisa de atendimento público nos hospitais e SUS, precisa de medicamento, muitas vezes se faz uso de pomadas internas. Precisa de água potável para limpar a vagina, precisa de sabonete.
Só que se estima, segundo estudo da UNICEF, que 713 mil meninas brasileiras não têm acesso a banheiros em suas casas e 88,7% delas, mais de 632 mil meninas vivem sem acesso a sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade. Olha o tamanho deste número.
São 632 mil meninas que não tem banheiro. Banheiro. E quem não tem banheiro, não tem água, não tem luz, não tem sabonete, não tem absorvente, não pode ir à escola ou não pode nem sair de casa. É isso que a gente chama de pobreza menstrual.
Este é o grau máximo dessa pobreza e claro que a gente não pode ficar sem fazer nada. Neste mês, a Pantys lança mais uma campanha de conscientização e combate e tenho certeza de que muitas outras surgirão em prol desse direito.
Se engaje, poste, compartilhe e pergunte na sua escola o que é que eles têm feito.
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