família: cuidado que fortalece
As relações familiares são um assunto complexo e muito único da vivência de cada pessoa, mas por aqui a gente adora quebrar um tabu, como vocês sabem, e acreditamos que tudo pode e deve ser falado, pois só assim conseguimos evoluir. Por isso, esse é o tema do nosso terceiro texto sobre relacionamentos, onde já falamos sobre relacionamento com a gente mesma e também sobre relacionamentos amorosos.
Às vezes a gente nem repara, mas nos relacionamentos com a nossa família a gente também pode colocar nossos limites, criar juntas regrinhas e acordos que fazem bem para todos e conversar sobre tudo isso. Saiu uma pesquisa do grupo Consumoteca que mostrou que, durante o isolamento social, os brasileiros entrevistados disseram que estavam com mais saudade de rever os amigos do que a família. Mas por que nos sentimos assim? Os laços familiares não significam que todo mundo naquela família é igual, a gente pode ter um posicionamento político diferente, uma visão de mundo que não é a mesma que nossos pais, e até mesmo termos vontades e planos que a nossa família não imaginava pra gente. E tudo bem.
Aprender a olhar e refletir sobre essas relações vai para além do nosso papel de filha, irmã, neta ou sobrinha, vale também para o papel de mãe: estar nesse lugar, que muitas vezes é tão central numa relação familiar, não significa que temos que aceitar tudo o que a sociedade nos impõe, e temos o direito de nos posicionar e de viver aquilo que é melhor pra nós. Então, para começar a entender essa jornada, que tal conhecer algumas mulheres que falam de um jeito muito verdadeiro sobre as relações familiares?
A Elisama Santos é psicanalista, escritora e uma fonte de aprendizados inesgotável. Fala com muito carinho e verdade sobre a construção de relacionamentos familiares saudáveis, sem deixar de lado os tantos tabus que aparecem nessas conversas. “Cuidar da nossa relação e das nossas atitudes já pede uma força enorme. Ter que construir a relação do outro é um peso que não temos como carregar. Nem podemos fazê-lo. Então, assuma a sua responsabilidade e deixe que o outro assuma a dele, vivenciando as consequências de suas atitudes”. Potente e transformador, né?
Educadora parental e especialista emocional, a Lua tem um perfil no Instagram lindíssimo em que ela fala muito sobre o seu papel de mãe e mulher. “Nós oscilamos entre esperança e o cansaço. Não há rota de fuga, a não ser para dentro. Mas é que dentro, muitas vezes eu não caibo, não me vejo, não me reconheço. E aí, a criança que grita me faz querer chorar, a indireta me faz querer brigar, a pia na louça me faz querer desistir. E tá tudo bem. Sinto que estamos crescendo e crescer dói”. É inspiração purinha do começo ao fim, não acham?
A Mirelle é uma fotógrafa incrível que também fala muito sobre maternidade, família e sobre ser mulher neste mundo - e por morar em outro país, acaba trazendo reflexões sobre as relações familiares que acontecem de longe. “Foi com o meu sobrinho que estabeleci meus primeiros vínculos afetivos intensos. Veio dele a reciprocidade que eu jamais havia conhecido. De lá pra cá, o que mais fiz na vida foi amar! Amores imediatos, outros construídos, amores descompassados e amores tranquilos que dividi com namorados... amigxs... Com gente, de maneira geral”. Os olhos chegam até a encher d’água.
E para fechar essa lista (que é muuuito maior do que essa pequena seleção de hoje), vamos indicar o Instagram da Ligia Moreiras, cientista e escritora. Ela fala sobre relacionamentos e maternidade de um jeito tão especial que a gente nem precisa ser mãe para nos envolvermos com tantas reflexões importantes, como essa: “É uma dor funda relembrar que, embora nos esforcemos tanto para cuidar das nossas crianças com amor, não foi assim que fizeram com a gente. E aquela criança ferida que fomos muitas vezes permanece lá atrás se sentindo desamparada. Essa visita ao passado é fundamental. Ela lança luz sobre o porquê do ciclo da violência muitas vezes se manter.”
Depois dessas falas super potentes, a gente já se sente até mais fortalecida pra pensar na nossa própria família, né? Até porque existem diversos tipos de família: se a gente pensar na forma mais clássica, a família é onde estão pais, mães, irmãos, e aí aumenta para avós, avôs, tios, tias e primos. Mas hoje já ampliamos esse conceito também para um grupo de amigos super próximo e com quem convivemos diariamente, ou, ainda, reduzimos para uma ou duas pessoas que sabemos que podemos contar sempre que a gente precisa.
O autoconhecimento, que falamos tantas vezes por aqui, é uma das ferramentas que temos para nos ajudar a mudar, transformar e fortalecer as relações com as outras pessoas, e isso inclui também os relacionamentos familiares. Uma das coisas que a gente pode se perguntar é se não está muito pesado pra nós, e entender que cada pessoa da família tem um papel e uma função ali dentro, e nós não precisamos carregar em nossos ombros a família inteira. Podemos, sim, conversar e dividir para que tudo fique mais leve.
Quando a gente nasce ou cresce com um grupo de pessoas, parece que precisamos estar ali pra sempre, mesmo quando não é muito legal pra gente, mas não precisa ser assim. Diante de situações que não nos fazem bem, podemos conversar, reivindicar um espaço de diálogos e construções. E se a gente achar que faz sentido, podemos nos afastar por um tempo, isso também é uma forma de autocuidado.
Pra poder ajudar e ser aquele ombro amigo da nossa família, precisamos também estar fortalecidas e seguras, né? Por isso, entender que tem coisas que estão fora do nosso controle pode ser libertador e nos deixar até mais preparadas para acolher aquilo que nos cabe. Através desse olhar carinhoso pra dentro, das conversas francas e afetuosas, e da busca por um equilíbrio, podemos também transformar as relações familiares pra que elas se tornem cada vez mais saudáveis.
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