Entenda por que existe um mês dedicado ao Orgulho LGBTQIA+

Carolina Delboni é educadora e escritora. Especialista em comportamento adolescente. Colunista do Estadão, atua também como consultora educacional e palestrante em escolas e instituições. É autora do livro Desafios da Adolescência na Contemporaneidade.

 

Eu já falei aqui algumas vezes, mas vou repetir: enquanto houver racismo, desigualdade social, homofobia, violência contra meninas e mulheres e/ou preconceitos de qualquer natureza que violem a liberdade e os direitos humanos de outra pessoa, será necessário que tenhamos marcos no calendário para combater tais brutalidades.

 

Porque são nessas datas, são nesses momentos que as campanhas ganham holofotes, as vozes ganham amplitude e a sociedade é capaz de escutar de maneira mais sensível e empática. São momentos em que a gente marca no calendário da História Humana as mudanças sociais.

 

Em 2022, foi a primeira vez que o IBGE colocou em seu relatório o percentual de brasileiros adultos que se declaram gays, lésbicas, assexuais, bissexuais ou transgênero e foi a partir deste movimento que, pela primeira vez eu reforço, que pudemos ter dimensão social de qual o número desta população que nos compõe.

 

São cerca de 19 milhões de pessoas que até 2022 não existiam no Censo, 12% da população adulta brasileira e, claro, que esse número é maior. Sabemos. Mas são esses números, são essas dimensões, que nos dão a amplitude da sua importância. E são esses números que ajudam a dar força para a elaboração e garantia de políticas públicas de proteção e direitos da comunidade.

 

Não à toa, a 27º. Parada LGBTQIA+ deste ano, que aconteceu na Av. Paulista, levou 3 milhões de pessoas às ruas sob o tema "Queremos políticas sociais para LGBT+ por inteiro e não pela metade". Afinal, quem é que nasceu para existir pela metade?

 

Existimos todos por inteiro, portanto, os direitos precisam corresponder à integralidade de todo e qualquer ser humano. As diferenças existem, mesmo não devendo existir e é por isso que o mês de junho marca o Orgulho LGBTQIA+.

 

Em passagem pelo evento, o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, declarou que “é dever do Estado garantir a comunidade LGBTQIA+ o direito de existir”. “O que se reivindica aqui não é um favor. É um direito. É dever do estado brasileiro zelar pela saúde, garantir educação, garantir que todas as pessoas tenham acesso a emprego e renda de forma digna. Essa é a luta que temos que fazer”, ressaltou em entrevista ao UOL.

 

Direito também de viver. Só este ano, o Disque 100 registrou 767 denúncias de violências sofridas por pessoas LGBTQIA+ de janeiro a maio deste ano no estado de São Paulo. A informação é do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Em todo o país, o número foi de 2.536 denúncias, contra apenas 565 no mesmo período de 2022 - o que indica um aumento de 303%. Entre as violências sofridas, 78,8% são psicológicas, 31,3% físicas e 18,4% sexual.

 

A chance de uma pessoa LGBTQIA+ sofrer violência é 3 vezes maior que de uma pessoa heterossexual, segundo estudo inédito de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais.

 

Impossível olhar esses dados e não se mobilizar, certo? Por isto este espaço aqui, por isto este texto, essa bandeira que juntos a gente ajuda a levantar e sustentar. Na tentativa social de provocar mudanças e reforçar a necessidade de leis e políticas públicas.

 

É urgente a gente pensar – e repensar – nosso papel nesta causa e em todas as outras que envolvam a violação de direitos humanos a pessoas como a gente. Gente. Somos “gentes” que precisam ser cuidadas e respeitadas. E não existe ninguém melhor que ninguém. Parece óbvio, certo? Mas às vezes a gente precisa garantir o indiscutível para seguir adiante.

 


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