endometriose: março amarelo! sintomas e tratamentos

Por: Dra. Juliana Sperandio. Ginecologista, feminista, amante de uma boa conversa, apaixonada pela vida e por como o nosso estilo de vida pode influenciar a saúde e permitir a conexão corpo-mente.

“Normal, toma um remedinho que passa”

“Nossa, pra que tanto drama. Toda mulher passa por isso, todo mês.”

“Descansar na menstruação? Nunca ouvi falar isso, na minha época não era assim.

Eu já ouvi isso, algumas vezes, em períodos de cólicas menstruais mais intensas . Tenho certeza de muitas de vocês, também.

Desde meninas, aprendemos que o corpo feminino suporta mais dor, naturalizamos as cólicas menstruais intensas, e somos ensinadas que precisamos ser produtivas da mesma maneira, em todas as fases do mês.

Mas, será que isso é verdade mesmo? Será que o corpo feminino deve suportar mais dor? Qual o “ limite” que consideramos uma dor “ esperada” no período menstrual??

O primeiro ponto que eu gostaria de trazer para vocês é: dor é uma percepção INDIVIDUAL. Isso quer dizer que ela é influenciada por aspectos físicos, psíquicos, culturais e sociais. Por exemplo, se você tem qualquer doença que te causa dor, em períodos de mais estresse pode ser que ela aumente consideravelmente ( por alterações de hormônios e neurotransmissores cerebrais, que amplificam a percepção de dor).

Quando passamos a olhar a dor sob o aspecto individual, percebemos que o conceito de dor difundido culturalmente, especialmente em relação aos corpos femininos, é completamente distorcido. Quem precisa e deve graduar a própria dor, e identificar quando ela está muito intensa e atrapalhando o dia a dia e a qualidade de vida, é a própria mulher, e não um agente externo.  

Em termos médicos, consideramos uma dor moderada, ou seja, aquela que precisa ser investigada, quando a própria mulher a gradua como nota 5 ou mais, em uma escala de 0 a 10 ( 10 é a pior dor já sentida). Ou seja, quem deve determinar se a dor é intensa ou não é a própria mulher!!!

Percebemos então que existe um desfalque cultural grande em relação ao conceito de dor e a percepção da própria dor: se somos ensinadas desde cedo a suportar nossas dores, isso pode nos atrapalhar na identificação de que talvez aquela dor não seja normal e que precisa de investigação!

Não é à toa que para mulheres com endometriose, uma doença que afeta 1 em cada 10 brasileiras, há um atraso em média de 8 anos entre o início dos sintomas e o diagnóstico correto!

Esse atraso diagnóstico está associado, ao meu ver, a três problemas principais:

• fenômeno de normalização da dor, como expliquei anteriormente

• falta de conhecimento da própria mulher em relação ao próprio corpo

• falta de capacitação dos profissionais da saúde em relação à identificar sintomas da endometriose, associado ao gaslighting dentro do mundo médico

O gaslighting é uma denominação que vem sendo utilizada quando os sintomas relatados pelas mulheres são minimizados ou desacreditados por quem as atende, algo que é mais evidente ainda nas minorias étnicas ( por exemplo, mulheres negras tendem a ter sua dor menos escutada e tratada!)

Março é o mês mundial de conscientização da endometriose! Então, se você tem algum destes sintomas abaixo, não deixe de procurar ajuda especializada. Seguimos juntas!

• dor pélvica durante o período menstrual moderada/ forte ( escala de dor maior que 5 ou seja, vc dá uma nota para sua dor maior que 5 em uma escala de 0-10)

• dor pélvica fora do periodo menstrual, recorrente

• dor durante a relação sexual com penetração, e/ou pós orgasmo

• sintomas urinários ou intestinais, sem outras causas

• fadiga, náuseas/vômitos ou enxaqueca persistente no período menstrual

• dor lombar especialmente no período menstrual

• infertilidade