Diagnóstico tardio do autismo e suas implicações na vida adulta
antes de tudo... o glossário:
-
Autista não verbal e autista verbal: Autista não verbal são aqueles que não se comunicam pela fala ou não se comunicam de maneira geral. Autistas verbais são aqueles que conseguem formar frases e utilizar a linguagem e falas complexas para se comunicar. O TEA afeta diretamente a fala e seu desenvolvimento e pode se manifestar diversamente na comunicação do indivíduo autista.
-
Neurodivergência/neurodivergente: Neurodivergência é o termo utilizado para englobar a presença de inúmeros Transtornos do Neurodesenvolvimento em uma situação específica e costuma ser utilizado para exemplificar questões comportamentais que se manifestam naqueles que possuem tais divergências: os neurodivergentes.
-
Neurotípico: são aquelas pessoas que não possuem quaisquer transtornos ou neurodivergências, sendo representado pela grande parcela da população que não compartilham das mesmas problemáticas, características e vivências comumente relatadas por pessoas neurodivergentes.
Segundo o DSM-5, o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um Transtorno do Neurodesenvolvimento caracterizado por déficits persistentes na comunicação social e interação social em múltiplos contextos, assim como padrões repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, sendo categorizado em três níveis de suporte.
Seu diagnóstico se faz necessário na infância, para determinar abordagens de tratamento e adaptações específicas. Mas você sabia que muitas pessoas são diagnosticadas após a fase da infância, ou até mesmo após a adolescência? Visto que o autismo é um espectro, suas características podem se manifestar de diferentes maneiras nas pessoas e, em alguns cenários, podem passar despercebidas em múltiplas fases do desenvolvimento.
Como o TEA se camufla?
Devido a sua semelhança com outros Transtornos do Neurodesenvolvimento, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e outros, o TEA pode ser confundido e o indivíduo pode receber um diagnóstico equivocado logo na infância e isso acabar desencadeando métodos de tratamento e adaptação ineficazes, visto que tais não supririam as necessidades do indivíduo autista.
Além do diagnóstico equivocado, indivíduos com TEA (verbais) costumam praticar “masking”, que se caracteriza pela necessidade de imitar ou reproduzir “comportamentos neurotípicos” com o propósito de esconder ou camuflar traços neurodivergentes. Esse comportamento, além de prejudicial e estressante a longo prazo, faz com que seus comportamentos genuínos sejam reprimidos e, consequentemente, ignorados. O que dificulta ainda mais o diagnóstico correto.
Ademais, existem fatores socioeconômicos e de gênero que afetam o diagnóstico. Mulheres têm menor probabilidade de serem diagnosticadas com TEA e isso se repete para pessoas pretas, latinas e asiáticas. Isso não significa que essas comunidades necessariamente possuam menos indivíduos autistas, mas sim que a literatura e métodos de avaliação não levaram em consideração o contexto desses públicos. Afinal, mesmo com tanto avanço científico e de conscientização, o TEA ainda é assimilado a tipicidade masculina branca e isso acaba prejudicando outros autistas que não se encaixam nesse padrão.
Descobrindo-se autista posteriormente...
Entretanto, mesmo com todos os empecilhos, aqueles que conseguem receber o diagnóstico correto, passam por um processo de autoconhecimento muito grande, afinal, muitos dilemas e características (até então de causas desconhecidas/negligenciadas) passam a ter uma explicação. E, com isso, essas pessoas podem buscar recursos, especialistas, tratamentos e direitos que se adequem com suas necessidades específicas.
“Direitos”? Sim! Graças ao avanço da visibilidade e inserção de políticas públicas, a comunidade autista conquistou direitos que vão desde a gratuidade no transporte interestadual (para pessoas com renda de até dois salários mínimos) até o direito de um salário mínimo por mês (para famílias com renda per capita menor que um quarto do salário mínimo).
Por outro lado, a integração da pessoa autista no mercado de trabalho e/ou estudantil pode ser desafiadora quando não se possui adaptações ou profissionais especializados nos grupos de autoridade dessas instituições. A notícia boa é que, conforme a ciência estuda e a informação se torna mais democratizada, fica cada vez mais possível proporcionar equidade para pessoas com deficiência.
É importante estarmos atentos com pessoas ao nosso redor e entender diferentes manifestações de comportamentos ou reações, pois eles podem indicar algo que, até então, não havia sido cogitado. E isso vai além de somente o TEA, essa cautela e zelo por pessoas próximas pode auxiliar no descobrimento e investigação de diversos outros transtornos. Ser presente na vida daqueles que nos importamos é fator crucial para entendê-los e, consequentemente, aceitá-los.
E é de suma importância que autistas e outras pessoas com deficiência possuam integração completa junto a pessoas que não possuem nenhum tipo de deficiência ou transtorno, para, então, estarmos mais próximos de um futuro inclusivo e entendermos que está tudo bem ser diferente.
Dito isso, feliz Dia Internacional da Conscientização do Autismo!
deixe um comentário