Coragem para seguir os seus sonhos: como agir com o coração apesar do medo
Olá! Aqui sou eu de novo :) Me chamo Nicole Gasparini, sou jornalista e escritora nômade e colunista convidada da Pantys. Escrevo desde Belém do Pará, onde vivo um sonho que foi semeado e cultivado com muito carinho ao longo dos últimos anos: morar um tempo na Amazônia.
No meu último texto para o blog, “Tempo para mim”: sobre respeitar e reconhecer a potência da nossa TPM, falei sobre a importância de uma TPM bem vivida e acolhida, com espaço para respeitar os nossos tempos internos, as vontades do nosso corpo e os desejos da nossa alma - uma fase poderosa de acesso a nossa sabedoria interna que nos prepara para um agir mais alinhado ao nosso coração, após a menstruação.
Coincidência ou não, escrevi aquele primeiro texto em uma TPM. Agora, escrevo renascida de um período menstrual pronta para dar vazão a tudo o que a maior floresta tropical do mundo tem a me oferecer. E é sobre isso o meu papo de hoje com vocês: sobre a coragem de se jogar no desconhecido e se deixar levar pela magia do caminho. Coragem (s.f.) do latim cor-actium; ação do coração. Agir com coração.
Coragem não significa ausência de medo. Mas agir independente dele. Escutar os sussurros do nosso coração e criar uma via clara de comunicação com a nossa intuição sempre vai nos levar longe, tão longe quanto as nossas amplas asas podem alcançar.
Ter me tornado nômade não foi algo que senti de fazer da noite para o dia. Não imaginava sequer que poderia de fato fazê-lo, mesmo quando já sabia que São Paulo não me prenderia por muito mais tempo.
Essa semente foi plantada em 2018 quando retornei para casa após viver um ano fora do Brasil, tendo passado os seis últimos meses mochilando e voluntariando em cinco países asiáticos (história que conto no meu livro Boon na minha vida - uma jornada pela Ásia publicado em 2022 pela Bambual Editora).
Quando voltei para São Paulo, após esse profundo contato comigo mesma, amparada pelos saberes orientais e cultivando a voz do meu coração como norte, já não restavam dúvidas: assim que possível, viraria nômade e teria o mundo como o quintal de casa.
Aquele semestre viajando sozinha, estabelecendo diálogos e reflexões comigo mesma a todo instante, deram base para uma ideia de vida que eu nem pensava existir.
Enquanto caminhava longe de casa, atravessando jornadas internas e externas do outro lado do mundo, trabalhei como voluntária em uma escola de inglês para crianças e adolescentes, em uma fazenda orgânica, em um Centro Hare Krishna e em um Templo Budista liderado por monjas mulheres.
O contato com as pessoas locais se tornou campo fértil para uma troca íntima que me permitiu adentrar profundas camadas minhas e me reinventar. Aos poucos, abria mão do peso das construções que carregava comigo sobre quem eu imaginava ser.
Durante esses seis meses, pela primeira vez em minha vida, eu não seguia uma rotina única e conhecia pessoas e lugares novos todos os dias. Nunca estive tão fora de minha zona de conforto e, ainda assim, tão feliz com a simplicidade das minhas atividades diárias, regando plantas, colhendo legumes, contemplando o nascer e o pôr-sol, brincando com crianças em vilarejos, praticando rituais para deuses hindus e desfrutando de longas conversas com pessoas que generosamente me emprestaram os óculos de suas perspectivas de vida.
Com o passar dos meses, fui entendendo que quando estamos longe de tudo que nos é familiar, estamos mais próximas de nós mesmas; abertas para nos deixar ser afetadas pelo diferente que pode seguir reverberando dentro de nós.
Quando nos conectamos com a nossa verdade, com aquilo que realmente faz os nossos olhos brilharem e o nosso coração pulsar mais forte não restam dúvidas: o corpo nos presenteia com uma sensação de preenchimento única. Basta sentir. E o caminho se abre para você enquanto você se abre para ele.
Tem uma frase que diz assim: "às vezes a vida nos faz mudar de rumo; às vezes o rumo nos faz mudar de vida”. Quando voltei para São Paulo, tinha certeza de que as decisões que tomaria a partir de então seriam tomadas a partir de um diálogo sincero com os meus desejos. Naquele momento, a minha vontade de seguir viajando e contando histórias de pessoas inspiradoras com estilos de vida mais sustentáveis e próximos à natureza era o que me norteava.
A semente estava plantada, mas o caminho até a colheita se mostrava longo e eu de fato eu não poderia prever como seria este processo. Mas onde existe um sonho existe um caminho. E foi nisso que eu confiei.
Por isso, não se deixe enganar sobre os sinais que o seu corpo te dá. Confiar no seu corpo é uma revolução. Ele materializa de forma implacável a nossa intuição. Quando você sentir dentro de você que deseja algo deixe isso anotado. Construa práticas e caminhos para realizá-lo, a curto, médio e longo prazo. Não existe data de validade para os sonhos.
Dois anos depois da minha volta para São Paulo, durante a pandemia e com a normalização do trabalho remoto, agradeci pelos caminhos que se abriam diante de mim. Foi em 2021 que pude me tornar nômade e passei a viajar pelo Brasil e por outros países da América Latina trabalhando com o que amo e me redescobrindo em múltiplas versões minhas que me permitia desbravar.
Por ser uma mulher que tinha 21 anos quando decidiu se aventurar sozinha, absorvi muito do medo das pessoas ao meu redor que constantemente transferiram suas inseguranças e crenças a respeito da jornada que eu trilharia.
O que eu posso te dizer é: vá e vá mesmo com medo! Ele talvez sempre te acompanhe, não importa para onde você decida ir. E ser mulher é provar todos os dias a nossa força diante do mundo.
Existem coisas sobre si mesma que você só vai descobrir entrando em contato íntimo com a sua essência. E isso pode ser feito viajando até o outro lado do mundo ou dentro da sua casa, criando novos hobbies, buscando novas atividades, conhecendo outras referências e repertórios que você talvez desconheça, mas que vão te transbordar de propósito.
Os desafios que surgem nesse caminho também são bem-vindos. Eles nos colocam em movimento, nos fazem sair da nossa zona de conforto. E só quando nos lançamos para o desconhecido, desbravando aquilo que nem sabíamos que existia, é que podemos de fato saber o que nos faz brilhar os olhos; onde de fato queremos estar aqui e agora. Mesmo que amanhã a gente mude de ideia.
Estar em paz com aquilo que faz o seu corpo vibrar e o seu coração expandir não tem preço. Por mais que o caminho escolhido vá na contramão do que a sociedade afirma ser o correto, viver uma vida em que você não se sente realizada também trará suas consequências. E o corpo estará aí novamente como uma bússola te indicando quando você estiver se desviando da sua intuição. Escute-o.
Se lançar neste campo fértil de possibilidades que o novo proporciona é a melhor forma de se conhecer. Se eu nunca tivesse feito essa viagem talvez não saberia tanto sobre o que me faz sentir realizada, motivada, viva. É como me ensinou certa vez uma querida amiga chilena “todos os caminhos levam ao coração”. Basta ouvi-lo com carinho.
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