Comer emocional e TPM
Por: Pabyle Flauzino. @nutridesconstruida
Nutricionista, Pisciana, Mestra em Nutrição e Saúde, Sommelier de bolo quentinho, Pós-graduada em Comportamento Alimentar, (Des)influenciadora Digital e Doutoranda em Saúde Coletiva (UECE).
Me conta aí, o que te motivou a fazer a sua última refeição? Fome? Vontade de comer? Hábito? Aliviar algum sentimento?
Minha última refeição foi uma tapioca com queijo coalho, totalmente motivada pela vergonha dos ruídos estomacais, me lembrando que eu já deveria ter dado uma pausa para ir comer (correria, né mores?).
Comer em resposta a este sinal “fisiológico” se chama “fome física”. Maaas, como vocês são espertas e já devem ter percebido, nem sempre os sinais de fome física são fáceis de serem interpretados, respeitados, e, tampouco, são os únicos que regulam a nossa alimentação.
Passar na padaria e comprar uma fatia de bolo para comer em celebração a uma conquista. Pedir um lanchão por aplicativo para aliviar a tristeza de uma sexta solitária. Morder um chocolate quase como quem procura um anestésico durante um dia estressante.
Quem nunca, né? Em todos esses exemplos as escolhas alimentares foram feitas em resposta a emoções positivas ou negativas, e é isso que caracteriza o “comer emocional”.
A princípio, o comer emocional faz parte da experiência de estar viva, e não é um “problema” ou “erro”. Maaaas, pode vir a se tornar um prejuízo quando a única forma de lidar com as emoções se dá através da comida.
Qual a relação do comer emocional com a TPM?
Para muitas pessoas a TPM é um gatilho importante para o aumento do comer emocional e isso acontece por alguns motivos.
Primeiro, dias antes da menstruação a produção de serotonina é reduzida. Na ânsia para não perder o réu primário e equilibrar os níveis de serotonina, buscamos aquilo que libera uma sensação de prazer, e o que pode fazer isso por nós em poucos segundos e a uma geladeira de distância? Sim irmãs, a comida!
Mas não é qualquer comida, por questões fisiológicas e culturais, buscamos comidas doces e/ou gordurosas.
Na cultura ocidental esses nutrientes são lidos como um evento canônico que devemos evitar a qualquer custo. Para muitas pessoas não conseguirem “resistir” a estes alimentos é sinônimo de falha e culpa. Aí você imagina:
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A pessoa está se sentindo culpada porque comeu um docinho;
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O sentimento de culpa a deixa deprimida;
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E o humor deprimido se intensifica com a TPM;
Qual comportamento é provável que ela realize para lidar com tudo isso?
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(a) cantar uma bela canção;
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(b) comer ainda mais doce!!!!
Infelizmente as nossas experiências e os estudos científicos demonstram ser o item (b). (chore se você chorou 😞).
Restrição calórica no ciclo menstrual
Outro ponto importante é que muitas pessoas vivem em restrição calórica ao longo do ciclo menstrual. Com a TPM, a base intrapsíquica e fisiológica que mantém o autocontrole pode se esgotar, fazendo com que as pessoas comam aquilo que suprimiram durante boa parte do tempo.
E o último motivo pelo qual a TPM pode predispor o comer emocional se dá pela própria modificação do bem-estar físico e psicológico, fazendo com que se busque na comida um conforto.
Aparentemente a comida é a única forma de alívio socialmente aceita para mulheres neste período desafiador (mas aqui a gente deixa essa problematização para os próximos capítulos, ok?).
Esteriótipos a respeito da TPM e alimentação
A construção cultural sobre TPM e alimentação é cheia de estereótipos. Depois procurem por “TPM” em alguma rede social cujo foco seja a divulgação de vídeos, e vocês vão ser engolidas por uma avalanche de memes e piadas sobre como as mulheres são “descontroladas” e “instáveis” durante a TPM, e só a comida pode proporcionar este “controle” (é até paradoxal, já que na maior parte do tempo as pistas sociais nos dizem para evitar comida).
Esses vídeos parecem inofensivos, mas alguns estudos demonstram que as mulheres podem internalizar a noção de que a menstruação e a TPM são fatores estressantes. Essa percepção de estresse pode predispor o comer emocional e comentários autodepreciativos.
Como tornar a alimentação mais consciente durante a TPM?
Uma ótima opção é fazer um calendário-diário para anotar os sintomas pré-menstruais e os gatilhos emocionais que podem predispor o comer emocional.
Ao longo de alguns ciclos, será possível compreender alguns padrões, examinar as percepções das emoções e desenvolver estratégias de enfrentamento para lidar com este período.
A ideia principal é estimular a assertividade e o autocuidado ao longo do ciclo. Aumentar o repertório de atividades e comportamentos prazerosos que não envolvam a comida podem ser de grande ajuda.
Uma caminhada, dançar, ler um livro, assistir a uma série, tirar um tempo sozinha ou escrever num diário são medidas simples e possíveis (inclusive, deixem nos comentários as suas dicas!).
Uma excelente alternativa é tentar manter uma alimentação rica em alimentos naturais e minimamente processados, comendo com moderação os ultraprocessados e evitando restrições alimentares desnecessárias.
Estes pontos podem facilitar a incorporação de uma relação saudável com a comida durante todo o ciclo menstrual. Provavelmente estas medidas não farão os sinais e sintomas da TPM desaparecerem, e nem acabarão com o “comer emocional”, mas podem nos fazer desenvolver novas atitudes diante deles.
Ressignificar a relação com a menstruação, TPM e a comida é um processo de resistência e amor aos nossos corpos!
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