bell hooks e lélia gonzalez: ler é uma forma de agradecer!
O fim do ano vem chegando e junto com ele um convite para botarmos as leituras em dia e aprendermos coisas novas. Como é bom ler um livro e mergulhar num universo inteirinho e depois sair com uma compreensão totalmente nova do mundo. Quanto mais conhecemos e compreendemos o feminismo, mais nos tornamos parte da construção dessa nova era de mais equilíbrio e igualdade para todas nós.
Vamos já ouviu falar sobre bell hooks e Lélia Gonzalez? São vozes importantíssimas na luta e no desenvolvimento do feminismo. São muitas as escritoras que partilham suas histórias e precisam ser lidas, por isso foi super difícil escolher quem indicar por aqui hoje, então vamos contar o que nos levou a esses nomes: a bell hooks tem uma linguagem simples e acessível, perfeita para quem está começando no tema, e a Lélia é uma revolucionária brasileira e pioneira no assunto que, além de merecer todo destaque possível por sua contribuição, tem muito a nos ensinar sobre vivências específicas das mulheres negras no nosso país.
Lélia Gonzalez
Em sua recente visita ao Brasil, a norte-americana Angela Davis, um dos maiores expoentes da luta contra o racismo no mundo, declarou: “Eu me sinto estranha quando sinto que estou sendo escolhida para representar o feminismo negro. E por que aqui no Brasil vocês precisam buscar essa referência nos Estados Unidos? Eu acho que aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês poderiam aprender comigo”. Essa fala reforça a necessidade de valorizarmos essa figura de luta tão importante que traz questões específicas da nossa realidade.
Este ano completa 25 anos da morte de Lélia Gonzalez (1935-1994) e queremos honrar toda sua luta que nos fez chegar até aqui. Não sabemos nem por onde começar a contar os seus predicados, mas vamos tentar: antropóloga, historiadora, professora, teórica, política, escritora, filósofa e militante. Talvez a gente tenha esquecido alguma coisa, mas o fato é que ela dedicou grande parte de sua vida ao estudo e à luta pelas mulheres negras e foi uma transformadora muito além de seu tempo. Reconhecida não apenas no Brasil, mas na América Latina e no mundo, Lélia foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU), participou da criação do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN-RJ), do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras-RJ, do Olodum-BA e de muitos outros movimentos fundamentais para nossas conquistas. Ela falava e ensinava não só para preservar, mas, principalmente, para resgatar as genealogias e o orgulho da cultura africana, com reflexões que partem da psicanálise, da filosofia, do candomblé e de sua própria vivência como mulher negra periférica.
Primavera para as rosas negras
Lélia Gonzalez. Editora Filhos da África, 2018.
Este livro reúne artigos, entrevistas depoimentos e ensaios de Lélia de 1970 a 1990, com teorias originais e geniais sobre as mulheres negras no Brasil e a importância de se movimentarem da margem para o centro do desenvolvimento da nossa sociedade. Uma obra que continua extremamente relevante. O livro foi organizado após sua morte e, de forma independente, lançado pelo selo Filhos da África, da União dos Coletivos Panafricanistas, em 2018.
bell hooks
Uma das principais intelectuais dos nossos tempos, a escritora afroamericana nasceu em 1952 em Hopkinsville, uma cidade rural do estado de Kentucky, no sul dos Estados Unidos. Ela adotou o nome pelo qual é conhecida em homenagem à bisavó, Bell Blair Hooks e faz questão de afirmar que bell hooks deve ser escrito em letra minúscula mesmo, representando seu desejo de dar destaque ao conteúdo de sua escrita e não à sua pessoa. Com mais de 30 obras publicadas, seus principais estudos discutem raça, gênero e classe, com ênfase em temas como arte, história, feminismo, educação e mídia de massas.
A escritora defende a educação como uma ferramenta política de resistência e valoriza todo tipo de conhecimento e pedagogia, inclusive a que acontece a partir de práticas e vivências cotidianas. Não é à toa que a principal característica das suas obras é a facilidade de entendimento, bell hooks escreve de uma forma acessível, sucinta e direta, com o objetivo de que seus aprendizados sobre feminismo negro e luta antirrascista chegue ao máximo de pessoas possível, especialmente às mulheres negras, que historicamente enfrentaram e ainda enfrentam muita dificuldade de acesso ao meio acadêmico.
O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras
Bell hooks. Selo Rosa dos Tempos, Editora Record, 2018.
Este livro é quase uma cartilha, super fácil de ler, que nos ensina que o movimento feminista nunca terá sucesso em acabar com a opressão se ignorar questões de raça, classe e capitalismo. Ela diz repetidas vezes nessa obra que “enquanto mulheres usarem poder de classe e de raça para dominar outras mulheres, a sororidade feminista não poderá existir por completo.”
A obra apresenta um ponto de vista poderoso e mobilizador sobre políticas feministas, direitos reprodutivos, beleza, luta de classes feminista, feminismo global, trabalho, raça e gênero e o fim da violência. Além disso, outros temas urgentes para os dias de hoje também são abordados, como a intersecção do feminismo com: maternagem e paternagem, casamento e companheirismo libertadores, política sexual, lesbianidade, amor feminista e espiritualidade.
Achamos importante dizer que existem muitas outras potentes vozes desse movimento que merecem ser reverberadas não apenas pela qualidade e importância da produção, mas pelas abordagens e perspectivas totalmente diferentes e complementares sobre o feminismo negro. Seria quase impossível abordar todas em um texto, mas vamos continuar falando sobre esse assunto por aqui e recomendamos muito que todas busquem esses nomes para que possamos aprender e caminhar juntas. Sigamos celebrando as conquistas e conscientes de que ainda há muita liberdade a ser conquistada e que o caminho é estudar e lutar por todas. Vamos juntas? <3
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